Desde o episódio de Honduras – em que o presidente Lula interveio diretamente em assuntos internos daquele país, por ignorar a Constituição hondurenha, mantendo até hoje sob suspeita a validade das eleições absolutamente livres lá ocorridas – sua política externa tem prejudicado a imagem do Brasil no exterior, assim como todos os cidadãos brasileiros.
Em relação à imagem que conseguira colocar em patamar elevado até meados de 2008, basta verificar as críticas que vem recebendo de organizações internacionais dedicadas à defesa de direitos humanos e da liberdade de imprensa, por sua postura, absolutamente oposta à adotada quanto à nação hondurenha. Por Ives Gandra Martins
Acaricia o ego de ditadores seus amigos e abstém-se de qualquer manifestação de censura às medidas arbitrárias por eles perpetradas – de fraudar eleições, condenar à pena de morte opositores, prender aqueles que não concordam com suas opiniões e perseguir a imprensa, os intelectuais e os empresários –, afirmando não lhe caber imisquir-se em assuntos internos dos países por eles governados.
Cuba, a mais antiga ditadura da América Latina, apenas soltou presos políticos, que fizeram duras críticas a Lula, por intervenção da Igreja Católica e da Espanha. O Irã, cujas fraudes eleitorais foram reconhecidas pelo próprio governo, é exaltado pelo Brasil. A Guiné Equatorial, uma das mais antigas ditaduras africanas, merece visitas e declarações conjuntas. Mugabe foi prestigiado por Lula, apesar de assassinar opositores.
Na própria América do Sul, em que os aprendizes de ditador vão se multiplicando, não só prestigia as perseguições a opositores, apropriações indevidas, eliminação da imprensa livre e da livre iniciativa, como auxilia, por outro lado, a manutenção de um quase-ditador, que está destruindo a economia venezuelana e comprometendo o que a sociedade construíra no passado, dando-lhe sobrevida com benesses infraestruturais.
A Bolívia, que o desmoralizou com a invasão da Petrobras no dia do trabalho, tem recebido tratamento preferencial e benefícios, entre os quais a revisão de contratos, sempre a favor dos interesses bolivianos e contrários aos brasileiros. O mesmo se diga quanto ao Equador, ao perseguir empresas brasileiras, com tolerância inadmissível por parte do nosso governo.
A Argentina é campeã nas discussões comerciais com o Brasil. Ganha todas, porque Lula sempre desiste de lutar pelos interesses nacionais. E o Paraguai vai agora rever, em 2010 , o Tratado de Itaipu, em cuja usina não colocou absolutamente nada.O Brasil deverá ter um prejuízo de R$ 5,5 bilhões com a revisão de um tratado, que só deveria ser revisto em 2023!
Esquece-se de que há miséria no Brasil . A educação vai mal em comparação com os padrões internacionais, os investimentos públicos são ínfimos (1% do PIB contra uma carga tributária de 35% ; no tempo do ministro Delfim Netto a carga era de 24% e o investimento público de 4%); o SUS não atende a população dignamente e remunera ridiculamente os profissionais e hospitais.
O presidente da República, pois, se compraz em fazer reverências com o chapéu alheio, tomando dinheiro dos contribuintes brasileiros para auxiliar os cinco países, cujos líderes flertam cada dia mais abertamente com a ditadura.
Parece que Lula usa o ditado ao contrário: “Mateus, primeiro os outros”! É bem verdade que, de um orçamento de aproximadamente R$ 1 trilhão, dedica R$ 12 bilhões para 11 milhões de famílias que integram o Bolsa Família. Mas quase R$ 200 bilhões são destinados apenas aos servidores da administração federal! Nós, cidadãos, não governamentais – ou seja, os de segunda categoria –, geraremos este ano um déficit previdenciário de R$ 42,9 bilhões. Somos, entretanto, 27.048.356 trabalhadores aposentados. Já os companheiros do serviço público, que são apenas 937.200, gerarão um déficit de R$ 47 bilhões! Em outras palavras, o déficit relativo aos cidadãos de segunda categoria, per capita, é de R$ 1.586. O déficit dos servidores públicos é de R$ 50.146, ou seja, 31,6 vezes maior! Custa-me a crer que, com tais dados, se possa falar em justiça no Brasil.
De nada adianta sua irritação crescente com a mídia, o que levou o presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa a equiparar Lula a Chávez, no que diz respeito ao desapreço pelo direito de livre imprensa. O que ele precisa é mudar de postura e voltar a ser o que foi nos primeiros seis anos de governo. - Opinião do Jornal do Brasil
Ives Gandra Martins é Professor de Direito e escritor
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