Em carta enviada a todos os Estados-membros da organização, representantes brasileiros defendem o diálogo com "infratores" e propõem reforma para que a condenação pública seja apenas o último recurso do Conselho de Direitos Humanos. O Itamaraty propôs que a organização evite censurar publicamente regimes autoritários. A estratégia é abster-se em votações sobre alguns casos e tentar manter o diálogo, mesmo com governos que cometeram atrocidades. Por Jamil Chade – Estadão – continue lendo aqui
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou ontem os países que formam o Conselho de Segurança das Nações Unidas e deixou sua colega argentina, Cristina Kirchner, em uma saia justa, ao fazer defesa veemente do Irã nas negociações em torno de seu programa nuclear. Ele adotou essa postura em dois momentos distintos: em sua intervenção no encontro com os demais chefes de Estado do Mercosul e, depois, na declaração à imprensa ao lado de Cristina, anfitriã da 39ª cúpula do bloco.
O problema é que, ao contrário do Brasil, a presidente argentina não só rejeita qualquer aproximação com o Irã, como se vê frequentemente forçada, por questões internas, a condenar o regime dos aiatolás. As investigações locais apontam o atual ministro iraniano da Defesa, Ahmad Vahidi, como um dos autores intelectuais do atentado terrorista à Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 18 de julho de 1994, que causou 85 mortes. Vahidi figura na lista de captura da Interpol. Cristina acusa o Irã de recusar-se a colaborar com as investigações.
Ao defender as negociações com o Irã, Lula também estava em frente ao novo ministro de Relações Exteriores da Argentina, Héctor Timerman , o primeiro chanceler judeu do país e forte ativista da comunidade. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, já relativizou o holocausto e costuma afirmar que deseja "excluir Israel do mapa".
Cristina fez um exercício de diplomacia para driblar as cobranças da imprensa argentina sobre o assunto. "Nas relações internacionais, tratamos de não misturar as coisas e não perguntar aos nossos amigos o que fazem ou com quem se reúnem quando não estão conosco", disse a presidente.
"Não nos parece apropriado", completou Cristina, ao lado de Lula. "A mim não me vem à cabeça perguntar a nenhum dos países que se reúnem com o Reino Unido, por que fazem isso, embora esteja ocupando militarmente e colonialmente território argentino. Respeitamos as decisões soberanas em matéria de política externa de cada um dos países", disse.
À imprensa, Lula reiterou a oferta de asilo político à iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte por adultério e suposto envolvimento na morte do marido. A república islâmica suspendeu uma sentença por apedrejamento, mas ela ainda pode ser executada por enforcamento. Um porta-voz do Irã indicou que o país rejeita a intermediação e considerou Lula "emotivo" e "mal informado".
"Primeiro, sou muito emocional. Segundo, eu não fiz um pedido formal (de asilo). Eu fiz um pedido mais humanitário", rebateu o presidente. "Pelo que se fala na imprensa, ou ela vai morrer apedrejada ou enforcada. Ou seja, nenhuma das duas mortes é humanamente aceitável. Por isso fiz esse apelo. Obviamente, se houver disposição do Irã em conversar sobre esse assunto, nós teremos imenso prazer em conversar e, se for o caso, trazer essa mulher ao Brasil."
Lula, entretanto, evitou criticar a situação dos direitos humanos no Irã e condenou o aumento de sanções. "Não acredito em sanções, porque a Rússia vai continuar construindo reator no Irã e a China vai continuar exportando petróleo", afirmou. As maiores críticas foram reservadas à postura dos EUA, da Rússia e de países europeus, que rejeitaram o acordo intermediado por Brasil e Turquia. Valor Econômico
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