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15 de agosto de 2010

Quando dois mais dois são quatro

Eu sei, é fortíssima a tentação de lutar contra fatos que nos contrariam tanto. Cede-se, facilmente, à tentação de considerar que diferentes institutos de pesquisa, concorrentes entre si, se unem num imenso complô para dar vitória a quem não se quer. Eu sei, eu entendo. A gente precisa dormir contemplando um horizonte sem tantas nuvens. Mas a realidade é esta: se não ocorrer qualquer incidente de percurso, algum fato novo (e em eleições, quando a gente começa a esperar por fato novo é porque a vaca está indo para o brejo), Dilma presidirá a república por delegação de seu chefe e com unção popular. Eu sei que doi, mas não gosto de me iludir nestas coisas. Basta olhar as tendências desenhadas pelas sucessivas pesquisas para discernir o que vem por aí. Por Percival Puggina


Por que escrevo estas linhas tão sentidas, traçadas entre soluços cívicos? Não seria melhor redigi-las sobre a necessidade de um movimento feminista no Irã? Acontece que, deixando a modéstia de lado, proclamo-me um dos raros, raríssimos, cronistas nacionais a indicar para onde, sempre em busca dos níveis mais baixos, nos arrastam as águas servidas desse nosso modelo institucional. Quantas vezes escrevi, ao espocarem os flashes sobre os escândalos: "Tá ruim? Pois saibam que vai desandar ainda mais". Ou então: "Não gostam desse parlamento? Regozijem-se com ele porque o próximo será pior". Gasto meus dedos, leitor, explicando, tintim por tintim, as causas das nossas mazelas e o quanto a regra do jogo político vai nos tornando reféns dos demagogos, privilegiando a mentira e centralizando o poder em proporções tão avassaladoras que nos tornamos um país de vassalos que se creem numa democracia.

Por que tão poucos prefeitos se declaram contra Dilma? Por que, ao longo dos respectivos mandatos, são raros os governadores em oposição política ao governo da União? Por que tanta gente está sempre no governo ou com o governo? Porque esse adesismo se inclui entre as práticas mais comuns do país?

Mas que diabos! Se aceitamos, ou consideramos irrelevante, o fato de que o presidente da República enfeixe tanto poder, como temos a coragem de reclamar das consequências? Nesse sentido, durmo sob nuvens negras no horizonte, mas com a consciência em paz. É muito contra minha proclamada vontade que o presidente chefia o Estado, o governo e a administração; comanda o orçamento da União (ou seja, quase 70% das receitas públicas e algo como 22% do PIB nacional); legisla vigorosamente através de medidas provisórias; libera, ao seu talante, recursos para estados, municípios e emendas parlamentares; manda e desmanda nas estatais; nomeia os membros dos tribunais superiores; controla as concessões de rádio e TV. E distribui fabulosas verbas publicitárias... É contra a minha vontade que, havendo nos tornado uma sociedade de massa, onde a opinião pública se confunde com a opinião publicada, escolhamos a pessoa que vai assumir tamanho poder pela via do voto direto que tanto facilita a vida dos demagogos e dos mentirosos. É contra a minha vontade que elegemos os membros do Congresso Nacional através de um sistema proporcional que estimula a representação política dos grupos de interesse (perfeito para conceder privilégios a uns e mandar a conta para todos). E ainda melhor para dissolver a oposição, como sal de fruta, no balcão das negociações.

Mas quem dá bola para isso? Quem, ou melhor, quantos, ao escolherem, agora, nestes dias que correm, seus candidatos ao Congresso Nacional (Câmara e Senado), se interessam em saber o que eles pensam sobre reforma política e pacto federativo? Quem? Quantos? Então, leitor, repita comigo: "Vai piorar!". Tão certo como é certo que dois mais dois são quatro. O Brasil foi capturado pelos vícios de seu modelo institucional. E muitos pretendem responsabilizar o povão pobre e humilde por sua intenção de voto. Era só o que faltava! Será que cabe a ele, povão, escrutinar as malícias e mazelas do modelo político nacional e apontar soluções para que a democracia não se converta nessa coisa malsã e decadente sob a qual vivemos?

Percival Puggina (65) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezena de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo e de Cuba, a tragédia da utopia.


Finalmente, uma opinião realista. Esta eu assino embaixo.

Ando impressionado com o malabarismo mental de alguns colunistas e blogueiros, tentando provar que a soma dos quadrados dos catetos não é igual ao quadrado da hipotenusa.

O Reinaldo é um deles. Por esses dias, ele escreveu o seguinte, sobre os resultados da última pesquisa: “Querem uma dica? Ignorem os rojões dos triunfalistas e as lamúrias dos apocalípticos. Isso é coisa de gente que acredita que a história tem epílogo. Não tem. Está sempre no meio do caminho”.

Um participante de um fórum político definiu bem suas palavras: “Parece texto para motivar militante”.

Tem sido comum nos debates políticos nas redes sociais, a discussão descambar para o lado da “pouca fé” dos que não acreditam que a coisa vai virar para o lado do tucano; quando começar a propaganda na TV, quando a Dilma abrir a boca, quando parar de chover, etc e tal.

Beira o tragicômico ver como alguns tentam dissecar os resultados das pesquisas [como se eles não estivessem na cara]; procuram vírgulas fora de lugar; montam teorias delirantes; enfim, fazem qualquer negócio que possa oferecer o descrédito da realidade — como uma espécie de bálsamo — para seus leitores aflitos, que buscam desesperadamente quem lhes diga que este pesadelo não é real.

Ora! sejamos honestos! A coisa está pretíssima. E não se trata de ser de fraco ou entreguista. Encarar a realidade é a primeira grande providência.

Quanto mais tempo perdemos procurando desculpas, mais as coisas pioram. Isto me fez lembrar da agonia da morte lenta de Sêneca, o filósofo, que condenado ao suicídio, por Nero, cortou uma veia do pé em busca de uma morte tranquila. Porém, demorou tanto a sangrar que acabou pedindo um banho quente para facilitar a hemorragia. Por FDS (Arthur)

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