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21 de agosto de 2010

Retrato de subdesenvolvimento

Pesquisa do IBGE mostra que, em 2008, 56% dos domicílios não tinham rede de esgoto

Num país que é considerado a oitava maior economia do mundo, 32 milhões de domicílios (56% do total) ainda não eram atendidos por rede geral de esgoto em 2008, sexto ano do governo Lula. Os números, com contornos de calamidade pública, foram revelados na Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) 2008, divulgada ontem pelo IBGE. De acordo com o levantamento, 2.495 municípios (44,8% do total) ainda eram totalmente descobertos de redes de esgoto dois anos atrás, e seus moradores tinham que recorrer a alternativas como fossas sépticas e rudimentares ou despejar esgoto em valões, rios ou terrenos vazios.

Dos temas investigados pela pesquisa do IBGE, (esgoto, lixo, abastecimento de água e drenagem), o saneamento foi o que apresentou os piores resultados e que avançou menos em relação à pesquisa anterior, em 2000. Em oito anos, só 135 cidades passaram a prestar o serviço. Por Rafael Galdo


Os municípios sem rede de esgoto diminuíram apenas de 2.630 (em 2000) para 2.495 (em 2008).

Nesse período, o número de domicílios sem rede de esgoto diminuiu apenas de 36 milhões (66,5% do total) para 32 milhões (56%).

A situação era mais grave nos estados mais pobres, no Norte e no Nordeste, e nas cidades menores, expondo desigualdades regionais. Enquanto 86,3% dos domicílios do Distrito Federal eram atendidos por rede geral de esgoto, em Rondônia o sistema só beneficiava 1,6% das residências.

Quase a totalidade (99,8%) dos municípios paulistas prestava o serviço, mas no Piauí eram só 4,5%, na lanterna do ranking nacional.

Rio: 31 cidades não tratam o esgoto
Mesmo no Sudeste, de onde vieram os melhores resultados, grande parte das cidades enfrentava graves deficiências em saneamento. No Rio, por exemplo, só cinco municípios (Teresópolis, Guapimirim, Mangaratiba, São Francisco do Itabapoana e Japeri) não tinham rede coletora, mas o serviço de saneamento era oferecido a menos da metade (49,2%) dos domicílios fluminenses.

Em Engenheiro Pedreira, distrito de Japeri, município com cerca de cem mil habitantes na Baixada Fluminense, a doméstica Ana Marcelina Lins, de 61 anos, instalou fossas sépticas no quintal para receber o esgoto.

Mas na porta da sua casa corre um valão. O córrego segue até o Rio Guandu, que quilômetros à frente receberá mais de 160 toneladas diárias de produtos químicos, a elevados custos ao estado, para ter suas águas tratadas e abastecer cerca de nove milhões de pessoas na cidade do Rio e em parte da Região Metropolitana.

— O esgoto de Engenheiro Pedreira vai todo para o Guandu. É bom que o povo do Rio, que consome essa água, saiba disso, e que aqui tentem uma solução — reivindica Ana, enquanto o município diz buscar parcerias com o estado e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) para obras de saneamento. Para André Castro, ex-presidente do Instituto Trata Brasil, esse desenvolvimento a passos lentos reflete o subdesenvolvimento que ainda persiste no país: — O Brasil se orgulha de estar se desenvolvendo e de poder ser, em alguns anos, a quarta ou quinta economia do mundo. Mas não prioriza questões básicas como saneamento.

Isso é a prova do nosso subdesenvolvimento.
Não adianta dizer que é desenvolvido se não garante condições básicas de vida.
De acordo com a pesquisa, a situação em 2008 era ainda mais grave quando o assunto era o tratamento do esgoto, o que só 28,5% dos municípios, menos de um terço deles, faziam.

E mesmo as cidades que o coletavam, muitas despejavam esses efluentes sem qualquer cuidado na natureza, na maioria das vezes em rios. No Rio, por exemplo, 31 municípios com rede de esgoto não o tratavam.

Como resultado, rios degradados e obstáculos à recuperação de lagoas e da Baía de Guanabara, com prejuízos não só ao meio ambiente, mas também à saúde e à qualidade de vida de milhares de fluminenses.

O lixo e a água escura da Praia do Catalão, na Ilha do Fundão, são o retrato desse problema, a despeito dos milhões gastos em programas de despoluição da Baía. É nessa praia que o aposentado Genival de Oliveira, de 79 anos, morador da Favela Nova Holanda, passa parte de seus dias há mais de 50 anos, pescando.

Mas, se antes voltava para casa com fartura de peixes, hoje o que mais traz do mar no anzol é plástico: — Chamo de “peixe-saco”. Às vezes passo o dia aqui, e volto para casa sem peixe. Todos os rios que chegam à Baía estão poluídos.

Na mesma praia, o serralheiro Rui Fernando Bastos, de 63 anos, morador de Bonsucesso, se exercita diariamente na curta faixa de areia que sobrou: — Bom é quando a maré leva todo o lixo embora e deixa a areia branquinha.

Apesar de todo esse lixo, a natureza aqui sobrevive. Ainda espero ver este lugar livre da poluição.COLABOROU: Carolina BenevidesO Globo

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