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16 de agosto de 2010

Uso da máquina pública em campanha é abuso, segundo especialistas

Governo é para governar. Candidato é que faz campanha

Em uma campanha em que um dos candidatos tenta a reeleição ou é apoiado por quem está no poder, é difícil saber até que ponto atua o governo e começa a militância. Por atravessar essa fronteira tênue, o presidente Lula da Silva já foi multado sete vezes pela Justiça e agora evita falar o nome de sua candidata, Dilma Rousseff (PT), em horário de trabalho, o que afronta diretamente as normas da legislação eleitoral. Mas, segundo especialistas, Lula continuou atuando “de forma subliminar” em favor da petista ao mobilizar ministros para defender o governo de críticas da oposição.


Desequilíbrio - Para o cientista político e presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), Geraldo Tadeu Monteiro, o uso da estrutura do governo para ressaltar seus feitos em período eleitoral torna a disputa desequilibrada. “Os ministros têm uma mídia garantida quando emitem notas e convocam coletivas”, lembra. Ele destaca uma contradição: “Quando Dilma exagera um dado em seus discursos, os ministérios não se apressam em emitir uma nota desmentindo o que ela disse. Isso só acontece com a oposição”. Por Adriana Caitano e Luciana Marques - Continue lendo na Veja


Ministérios se engajam na campanha de Dilma Rousseff - Valor Econômico

Oficialmente, a propaganda eleitoral começa a partir de amanhã, para os candidatos a presidente da República. Na prática, o que se viu na última semana é que a máquina pública federal está em plena campanha pela candidata do PT, Dilma Rousseff. Não importa a origem partidária do ministro em questão, eles têm sido rápidos para negar os dados apresentados pela oposição e lerdos quanto aos erros cometidos pela própria Dilma em seus pronunciamentos eleitorais.

Na série de eventos que se sucederam semana passada, se destacou o Ministério da Fazenda. Não há dúvidas sobre a legitimidade de a candidata governista usar números comparativos entre os oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso e os quase oito anos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está a quatro meses e meio de deixar o Palácio do Planalto. Mas soa no mínimo estranho quando essa comparação é feita em documento oficial da Fazenda, divulgado com pompa e circunstância na última terça-feira.

Governo é para governar. Candidato é que faz campanha. Ao trocar os sinais, o Ministério da Fazenda cometeu erros e distorções para melhorar o desempenho do governo petista em relação a seu antecessor. O ministro Guido Mantega reconheceu os erros, mas jurou que não houve manipulação estatística para inflar os números de Lula. No calhamaço de 136 páginas, há informações desmentidas por seus próprios gráficos e tabelas e erros simplórios de aritmética. Todos para favorecer o governo.

O melhor exemplo ocorre quando o boletim de estatísticas se refere ao superávit fiscal. "Até 2010, já são 12 anos de superávit acima de 2%" do Produto Interno Bruto. O gráfico que ilustra a afirmação mostra, para 2010, receitas de 19,9% e despesas de 18,5% do PIB. A "Folha de São Paulo" nem sequer precisou de calculadora para fazer uma conta simples e chegar a um superávit de 1,4%. É falso também a taxa de crescimento da renda per capita no período tucano. Espertamente foi desconsiderado o primeiro ano de governo de FHC, o que quase dobraria o crescimento da renda per capita de 3,5% para o período, apontado pelo boletim ministerial. Os dados mais vistosos divulgado pela Fazenda saíram direto do ministério para o site de campanha de Dilma.

Numa iniciativa pouco usual, o próprio ministro Guido Mantega se apresentou para a divulgação dos números. Não por acaso, a estação eleitoral levou outros ministros para falar de sucessos de políticas públicas, num evidente casamento da agenda do governo com a agenda da candidata. Duas ministras, a do Meio Ambiente e a do Desenvolvimento Social, também se apressaram a divulgar números positivos de suas pastas, como a redução do desmatamento na Amazônia, dado que em geral é divulgado no site do ministério.

Por fim, o ministério entrou com gosto no bate-boca eleitoral para rebater diversos números apresentados pelo candidato do PSDB, José Serra, na série de entrevistas do "Jornal Nacional", da TV Globo, com os principais candidatos à sucessão de Lula nas eleições de 3 de outubro. O Ministério dos Transportes produziu em tempo recorde uma extensa nota oficial para contestar as afirmações do tucano, entre as quais a de que "de cada dez estradas federais, sete estão esburacadas". Para fortalecer seu argumento o ministério recorreu a uma pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes de 2009, na qual em 51% das estradas federais o pavimento está bom ou ótimo.

O Ministério da Saúde também saiu em defesa de sua política para cirurgias eletivas. Serra havia atacado o atual governo por acabar com os mutirões da saúde. "Os mutirões foram incluídos na Política Nacional de Cirurgias Eletivas, criada em 2004", esclareceu o ministro pemedebista José Gomes Temporão. "Essa política incorporou os quatro procedimentos que eram realizados até então (catarata, próstata, varizes e retinopatia diabética) e outros 86 procedimentos, totalizando 90 tipos de cirurgias eletivas". Só não contou que nas sete maiores cidades brasileiras 171,6 mil pessoas aguardam para ser operadas.

Talvez o governo devesse ter o mesmo zelo para corrigir informações equivocadas de sua candidata, como dizer que o salário mínimo teve aumento real de 74% no governo Lula - o número correto é 53,6%. Melhor ainda é a máquina pública sair do debate eleitoral, no qual não deveria ter entrado.

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