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16 de setembro de 2010

As roupas e as armas de Dilma

As reações da petista não devem ser encaradas como triviais; podem indicar seu comportamento caso vença

Os dois principais escândalos da campanha não tiveram (será, mesmo?), até aqui, impacto na intenção de voto, diz o Datafolha publicado hoje. Dilma Rousseff continua líder, com perspectiva de ganhar no primeiro turno.

Isso não significa que eles sejam irrelevantes no roteiro -presente e futuro- da candidata petista. No curto intervalo de quatro meses, ela viu alvejados dois de seus aliados mais próximos, Fernando Pimentel e Erenice Guerra. Pimentel é ex-colega de faculdade de Dilma. Atuou ao lado dela na clandestinidade durante a ditadura. Ex-prefeito de BH e hoje candidato ao Senado, era ao mesmo tempo ombro amigo e conselheiro político. Por Renata Lo Prete

Erenice, por sua vez, aproximou-se de Dilma depois da primeira eleição de Lula. Com gostos e personalidades parecidas, as duas viraram unha e carne no Ministério de Minas e Energia e, depois, na Casa Civil. Foi Dilma quem, antes de sair em campanha, pediu a Lula que a auxiliar a sucedesse no ministério, desejo que o padrinho atendeu.

Pimentel foi convencido a se afastar de Brasília, e em certa medida também de Dilma, depois de ter o nome associado à confecção do dossiê contra tucanos que circulou no comitê da pré-campanha presidencial - entre os papeis, estava a declaração de renda do vice-presidente do PSDB, ilegalmente surrupiada da Receita Federal.

Já Erenice está pela bola sete desde que a imprensa revelou as ações de seu filho para intermediar negócios de empresas com o governo. Não é trivial que os principais escândalos eleitorais envolvam justamente pessoas do círculo próximo de Dilma. Existem indícios de que os dois casos foram divulgados e/ou alimentados por meio de "fogo amigo" - aliados preocupados em afastar concorrentes e iniciar a demarcação dos espaços que pretendem ocupar a partir de janeiro.

Por isso, também as próximas reações de Dilma não devem ser encaradas como triviais. Podem servir como indicador de seu comportamento em caso de vitória. Num cenário, ela atua para esfriar a temperatura do noticiário. Busca permanentemente se desvencilhar dos dois casos, trata os escândalos como incidentes de campanha e seus protagonistas como perdas naturais da guerra. É o ensaio de uma Presidência cautelosa, que medirá cada passo.

Grandes planos autorais, que implicam reformas legislativas, não fariam sentido nesse cenário, ainda que Lula consiga eleger um Senado e uma Câmara dóceis. Por que Dilma se meteria no corpo a corpo com parlamentares escolados em dossiês e intrigas? Depois do trauma do mensalão, Lula mostrou no segundo mandato que é possível tocar o governo quase ao largo do Congresso - por meio de decretos administrativos e empréstimos.

Mas existe também um outro cenário. Nele, Dilma dá de ombros para o que há de criminoso nos casos da quebra de sigilo da Receita Federal e do lobby na Casa Civil, trata tudo como sabotagem política e aumenta o tom das respostas. Nesse caso, crescem as chances de que reabilite Pimentel e Erenice logo mais adiante, faça valer a força tremenda de uma vitória no primeiro turno, peite o Congresso e, já no início do ano que vem, apresente todas as suas armas. Renata Lo Prete é editora do Painel da Folha de São Paulo


OPERAÇÃO BLINDAGEM – (eles contam com a burrice do povo - FDS)
Governistas dizem acreditar que estratégia protegeu a campanha de Dilma
A campanha da presidenciável petista considera que ainda não foi atingida pelas denúncias de tráfico de influência na Casa Civil, que envolvem a ministra Erenice Guerra — até março, o braço-direito de Dilma Rousseff no governo. Segundo pesquisas da coligação governista, a ofensiva desencadeada pelo presidente Lula teria dado resultado, e, pelo menos por enquanto, está mantida a decisão de não tirar Erenice do cargo.

O governo considera que saiu das cordas e que Dilma não foi prejudicada. Mas, mesmo com o discurso de que as denúncias contra Erenice não são fortes, todos no Planalto reconhecem o desconforto com o surgimento diário de problemas envolvendo a família. As denúncias começaram com o filho Israel Guerra e já envolvem pelo menos mais quatro familiares.

O que o Planalto tem deixado claro, nos bastidores, é que, apesar de Erenice ter sido protegida, se não fosse momento eleitoral, ela teria que fazer sua defesa de forma solitária.

— Não haverá repercussão eleitoral. O governo está respondendo a tudo que precisa ser respondido. Esse é um assunto que não vai durar mais que dois dias — diz o líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).

— Esse é um fato que já perdeu a importância. É compreensível a falta de rumo da oposição, que faz uma ação desesperada — disse o líder do PT, deputado Fernando Ferro (PE).

No governo e no PT há quem considere que Erenice errou o tom da nota divulgada. Teria ficado acima do acertado na reunião com Lula, ao chamar o presidenciável tucano, José Serra, de “candidato aético e já derrotado.” Ainda assim, Lula reafirmou a disposição de mantê-la no cargo, repetindo que “todos são inocentes até que se prove o contrário.” Desde que assumiu a Casa Civil, Erenice não tem sido presença constante nos eventos da Presidência.

Mas, desde o fim de semana, sumiu das solenidades no Planalto. Ontem, cancelou participação no lançamento do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado. Na segunda versão de sua agenda, entrou uma audiência. – Gerson Camarotti e Luiza Damé - O Globo

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