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17 de setembro de 2010

"Ele disse que era para buraco de campanha"

Quícoli diz que negociou empréstimo com assessores da Casa Civil; propina ajudaria campanhas de Dilma e Hélio Costa

Protagonista da denúncia que resultou na demissão de Erenice Guerra, o empresário Rubnei Quícoli confirmou ontem ao GLOBO que negociou com assessores da Casa Civil e com a Capital Assessoria, empresa de lobby cuja sociedade é formada por um dos filhos de Erenice Guerra, para obter um empréstimo de R$ 9 bilhões junto ao BNDES. Quícoli acusa os sócios da Capital de tráfico de influência e de pedirem propina de R$ 5 milhões, supostamente endereçada às campanhas da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, e do candidato ao governo de Minas Gerais Hélio Costa (PMDB). Por Roberto Maltchik, Geralda Doca e Tatiana Farah


A tentativa frustrada de tomar o empréstimo, confirmada pelo banco, serviria para viabilizar a instalação de uma central de energia solar no Nordeste. O empresário atuava em nome da EDRB do Brasil, companhia energética sediada em Campinas (SP). Segundo Quícoli, além da propina, os sócios da Capital redigiram um contrato em que fixavam "taxa de êxito" de 5% do valor do negócio (R$ 450 milhões) e mais um pagamento de R$ 240 mil. Quícoli diz que a propina foi solicitada em conversa com o então diretor dos Correios Marco Antonio de Oliveira, no quarto 4033 do Hotel Brasília Alvorada, a menos de um quilômetro do Palácio da Alvorada.

O empresário, no entanto, admite que não tem como provar o suposto pedido de propina.

- Marco Antonio falou que (o dinheiro) era para tampar um buraco da campanha da Dilma, da Erenice e, também, que uma parte era para ajudar o Hélio Costa, candidato a governador de Minas. Ele falou isso logo depois que (o empréstimo) foi bloqueado no BNDES. Ele comentou que o Israel, que eu fiquei sabendo que era o filho da Erenice, disse o seguinte: "Se eu não pagasse, eles iriam bloquear", como o que houve. Aí, eu recebi a notificação do BNDES, dizendo que o projeto não foi aprovado.

O hotel confirma que o flat 4033 é utilizado pelo ex-diretor dos Correios. Oliveira admite que se encontrou por diversas vezes com Quícoli no flat, mas nega pedido de propina.

O contrato da Capital com a EDRB é datado de 15 de dezembro de 2009 e teria sido encaminhado à empresa por e-mail. Os sócios da EDRB não assinaram a proposta, alegando discordar do pagamento de R$ 240 mil, cobrados pelos sócios da Capital. Entre dezembro de 2009 e fevereiro deste ano, houve intensa negociação entre a Capital e Quícoli para levar o pedido de empréstimo ao BNDES. A proposta foi protocolada em 26 de fevereiro e rejeitada em 29 de março.

Assessor arrastou negócio com a EDRB
Mesmo assim, Quícoli conta que o assessor da Casa Civil Vinícius de Castro, demitido na segundafeira por tráfico de influência, arrastou o negócio com a EDRB até o início deste ano.

Quícoli afirma que, em novembro de 2009, chegou a ser recebido pela então secretária-executiva da Casa Civil, Erenice Guerra, à época subordinada à ministra Dilma Rousseff. A Casa Civil confirma que Quícoli foi recebido no Centro Cultural Banco do Brasil, sede provisória do governo.

Mas informa que o encontro não foi com Erenice Guerra.
Ao GLOBO, Quícoli diz que Erenice se comprometeu em encaminhar a demanda para a Companhia Hidroelétrica do São Francisco. Ele afirma que Erenice não tratou de propina.

- A Erenice em si, não. Nunca comentou de propina, nunca teve esse assunto com ela. Foi sempre o pessoal que estava em volta dela é que vinha com esse contrato.

Quícoli, que já foi condenado por receptação de carga roubada, se contradisse ao comentar como e quando conheceu Israel Guerra. Inicialmente, ele afirmou que soube que Israel era filho de Erenice com a reportagem da revista "Veja". Mais tarde, no entanto, garantiu que soube de Israel por meio de Oliveira, o ex-diretor dos Correios.

Quícoli afirma que, fora as denúncias de pagamento de propina, tem como provar todas as informações que resultaram na demissão da chefe da Casa Civil.

É um investimento muito alto para a empresa e por conta de meia dúzia, dois, três... ser barrado dessa forma! Então, por isso teve esse manifesto (denúncia) da minha parte. Eu vou sustentar isso através de documento.

Tenho e-mails e documentos que provam tudo isso. O Globo

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