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3 de setembro de 2010

Máfia e jabuticabas

O método mafioso baseado no engano e na mentira sistemática, praticado pelos integrantes do partido que comanda o País, enseja mais um episódio repugnante. E cria uma situação esquizofrênica: de um lado, o presidente, campeão de popularidade, como o maestro da orquestra cuja partitura é uma ópera bufa; do lado oposto estão as leis, as instituições, e toda a construção da narrativa democrática, que consumiu as energias produtivas do Brasil nas últimas décadas.

No meio dessa cisão estão os brasileiros pobres, que inebriados com algumas migalhas que caíram sobre suas tristes vidas, mergulham no lodo dos patifes, como patinhos, tontos e rendidos aos apelos sortidos da bandidagem oficial. Alguém aí acha que essa fórmula que hoje habita o real e o imaginário do povo tem alguma chance de, digamos, dar certo? Por  Margrit Schmidt


No mais recente episódio que reitera a qualidade de caráter daqueles que estão no poder há oito anos, o que mais espanta é exatamente o espanto demonstrado diante dos recentes malfeitos. Somos todos Francenildos? Somos todos aloprados? Somos todos os "Lulas", que de nada souberam dos desmandos cometidos em nosso nome, na sala ao lado? Mesmo quando os crimes explodem na praça pública dos jornais e TVs?

CARAS DE PAU
Esse assalto à moralidade, essa falta de escrúpulos, essa sonsice desmedida, esse cinismo debochado é a rotina do governo do PT. Os "neutros" da grande imprensa, deveriam, portanto, estar acostumados. Cometer esse tipo de crime é a regra no governo Lula, e não a exceção.

Talvez o espanto de agora aconteça porque esse tipo de - como chamar? - vício, crime, sordidez, quando começa, continua a ocorrer em escalada, porque é parte do método. Os agentes que movimentam os fantoches perdem o controle. Mas a natureza criminosa faz parte do DNA desse método.

Não foi assim com José Dirceu regendo o mensalão no Congresso Nacional? Não foi assim com Antonio Palocci mandando quebrar o sigilo bancário do caseiro Francenildo Pereira? Não foi assim com os "aloprados" de Aloízio Mercadante flagrados pela Polícia Federal, em encontros espúrios em hotéis paulistas carregando malas com dinheiro para comprar um dossiê fajuto contra o então candidato do PSDB em São Paulo, José Serra?

Não foi assim com a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, quando fabricava, às escondidas, um "dossiê" contra o casal Fernando Henrique e Ruth Cardoso? Não foi assim que Lina Vieira foi demitida da Receita Federal por admitir, no Congresso Nacional, o encontro com Dilma, que foi lhe ordenar que "segurasse a barra" do filho de José Sarney, investigado na Receita?

A novidade no episódio na agência da Receita Federal de Mauá é que dessa vez flagraram um "atacado" na bandidagem da venda de dados sigilosos dos contribuintes. Mas o objetivo, impossível de esconder a esta altura, era pescar o filé do varejo da política.

ELES SÃO UMA GRAÇA
Engraçado: todos os nomes conhecidos são ligados direta ou indiretamente à oposição; não há nem um nome na lista que corre solta por aí, mesmo que remotamente, ligado à base do governo ou aospetistas. No caso da narrativa Frankenstein oficial que nunca soube, nem nunca saberá de nada, a culpa é da oposição. "Tudo armação política", dizem os petistas e aliados. A mesma surrada resposta de sempre.

Os nossos remakes de espantos e a hegemonia do banditismo mafioso na política são obras seculares. Nem são jabuticabas, as originalíssimas brasileiras. Esse método foi gestado em décadas de regime soviético, outras tantas décadas de centrais sindicais europeias, que em nome do povo e do socialismo aprenderam a enganar, roubar, engordando suas panças e agindo como bandos de Robin Hoods de araque. Verdadeiras escolas da bandidagem política ensinaram seus seguidores que as leis são feitas pelas elites e que por isso nada valem para os revolucionários de encomenda.

Mas a responsabilidade pelo sucesso dos métodos mafiosos na política hoje não é apenas dos seguidores dos manuais stalinistas ou do povo inebriado por uma boa conjuntura econômica. A oposição tem culpa no cartório.

Esta é a terceira vez que o cenário das disputas eleitorais propõe o embate entre os que sustentam a democracia como única e exclusiva forma de conduzir os destinos de uma nação, contra os que aprenderam a usar a democracia para acabar com ela, fazendo do Estado uma generosa correia de transmissão do partido. Em 2002, em 2006 e agora, cadê a oposição? Jornal de Brasília

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