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14 de outubro de 2010

O pescoço do lulismo

Paris – Dali de cima, Maria Antonieta disse que se o povo não tinha pão comesse brioche. Também não havia brioche. Comeram o reino dela, o pescoço dela, do marido dela, da família dela. Só restou o rei sobre seu cavalo, na frente do palácio. E a névoa desmanchando a tarde e compondo a noite, como o tempo que desmanchou a eternidade deles.

Há muitos anos, já lá se vão mais de 50, todo ano volto a Paris e vou a Versailles. Foi ali que tudo começou. Foi ali que a revolução francesa fez com sangue o parto da democracia. O mundo deve muito ao pescoço da Antonieta. Por Sebastião Nery



Do alto daquelas janelas que veem o infinito sobre jardins desenhados e lagos mansos, bosques de pé e campos deitados, Luís 16 e Maria Antonieta jamais imaginaram que tudo aquilo ia se acabar levando seus pescoços.

VERSAILLES
Em frente ao palácio, dois prédios solenes: um era a estrebaria do rei, o outro a da rainha. Lá ficavam seus cavalos e éguas. O povo, longe. Versailles era o chateau onde o rei e a rainha passavam fins de semana, férias, e, quando começou a revolução, se escondiam da fúria do povo. Nos outonos, sempre um sol envergonhado chega e vai logo embora. As tardes ficam cobertas por uma bruma fria que desce sobre as árvores secas. As folhas vão caindo devagar, como nobres e tontas lágrimas douradas. Hoje, alamedas enevoadas cheias de faróis acesos e turistas encapotados. Só faltam mesmo eles, os reis e seus nobres de roupas complicadas e cabelos encaracolados.

ROBESPIERRE
Aquilo ali é uma universidade do poder. Ninguém, por mais poderoso, é divino e eterno. Quem derrubou o rei também pensou que era.

Robespierre, 30 anos, furioso à frente das multidões, proclamou-se “Pontífice do Ser Supremo”, vestiu uma bata longa, cintilante, pôs um barrete frigio, de cardeal, e desfilou em Paris à frente de todos. Nas mãos, rosas e espigas, como em um “gala-gay”. E de 24 de outubro de 1793 a 27 de junho de 1794, oito meses, Robespierre cortou a cabeça, na guilhotina, de 2.596 pessoas. Só em Paris. No interior, outro tanto. Até que cortaram a dele também.

TIRANIAS
Engano pensar que só nas tiranias nascem tiranos. Também nas democracias. O grego Sófocles, 500 anos antes de Cristo, avisou, no Édipo Rei, que “o tirano nasce do ventre da insolência e não sai do poder pela própria vontade”. O russo Dostoievski, que sofreu a tirania nos grilhões da Casa dos Mortos, a prisão da Sibéria onde esteve preso e estive visitando-a, ensinou que “a tirania a tal ponto se dilata que acaba virando doença”.

Herói da unidade sul-americana, Bolívar avisou: “Nada tão perigoso como deixar alguém permanecer no poder por muito tempo. O povo acostuma-se a obedecer e ele a mandar, de onde se originam a usurpação e a tirania”.

SINGER
É assustador quando a principal matéria da bem- feita revista de banqueiros, por banqueiros, para banqueiros, a Piauí (número 49, de outubro de 2010), em longo texto do jornalista, “cientista político” (?) e professor da Universidade de São Paulo, André Singer, durante quatro anos (2003 a 2007) secretário de Imprensa e porta-voz do presidente Lula, anuncia (ameaça): “O Futuro do Lulismo – Por Que Ele Veio Para Ficar” .

Todos sempre pensaram a mesma coisa. Maria Antonieta também. E onde estão o Salazarismo, o Franquismo, o Getulismo, o Peronismo, o Fidelismo, o Chavismo? Uns já enterrados, outros à beira do IML da Historia.

GLOBONEWS
Domingo, 3 de outubro, em Paris, 22 horas (17 no Brasil) alguns amigos brasileiros, professores, jornalistas, estudantes, acompanhavam o resultado das eleições através da GloboNews, a melhor coisa da televisão brasileira. E foi um espetáculo patético, que ninguém sabia se eram edições extraordinárias do Big Brother, Casseta e Planeta, Pânico na TV, CQC ou coisas piores.

A GloboNews escalou alguns de seus mais experientes jornalistas, como Merval Pereira, Cristiana Lobo, Mônica Waldvogel, Sidney Rezende, para apresentarem e comentarem a pesquisa de “Boca de Urna” do Ibope e os números apurados do Tribunal Superior Eleitoral. Acabou numa patacoada.

PESQUISAS
Como o Ibope é sócio da Globo, a palavra do Ibope, Datafolha, Clesio sem Senso e até do ridículo Vox Populi é mais sagrada do que a de Bento 16 para a Igreja Católica. Tomaram dinheiro de governos e candidatos oficiais e, com a conivência da Justiça Eleitoral, acabaram com os comícios e fizeram uma aliança entre as “pesquisas” e as TVs, revistas e grandes jornais. Os comícios eram as “pesquisas” nas televisões toda noite e de manhã nos jornais.

Dilma já estava eleita e a apuração confirmaria tudo. Os números oficiais começaram a aparecer e eles se abobalharam, porque as “pesquisas” se desmoralizaram. Quando a “Boca de Urna” saiu, a apuração oficial perto da metade, e o Ibope e eles jurando que Dilma passaria dos 51%. E ela logo encroou nos 46%. Como nos tempos de Etelvino e dos velhos coronéis, eles mandavam “esperar a Zona da Mata” e a “água do monte”. E veio o 2º turno. Gazeta de Alagoas

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