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25 de julho de 2010

Romenos ainda sob trauma de Ceausescu

Foto real. Nicolae e sua esposa sendo levados para a execução
Vinte anos após queda e execução do ditador, geração que cresceu sob sua sombra não se livra das marcas do passado

BERLIM. Mais de 20 anos depois da sua execução, Nicolae Ceausescu — um dos piores ditadores da Europa do século XX — continua sendo visto pelos romenos, como um trauma ainda não superado. “Ceausescu era onipresente”, afirma o cineasta romeno Andrei Ujica, autor de um documentário sobre o ditador exibido recentemente no Festival de Cannes e que vai participar em setembro próximo do Festival de Cinema do Rio. Por Graça Magalhães-Ruether


Ujica, que tinha 14 anos quando Ceausescu subiu ao poder, em 1965, via a opressão do regime e o culto pessoal ao ditador como algo de um romance de Kafka, uma vida à beira da loucura, um trauma que o perseguia ainda hoje.

— A realização do filme foi para mim como uma terapia — diz ele, referindo-se a “Uma autobiografia de Nicolae Ceausescu”. — Nós sofremos a ditadura, soubemos do processo relâmpago e da execução de Nicolae e Elena Ceausescu, mas nunca conseguimos processar esses acontecimentos de outrora, que continuaram nas nossas cabeças como um trauma.

A era Ceausescu e o seu fim, em dezembro de 1989, são ainda hoje os capítulos mais sombrios da história do país. Ceausescu, um sapateiro humilde, conseguiu subir ao topo do Partido Comunista como um fundamentalista marxista e autoritário. Por discordar de Moscou, ele atraiu a simpatia do Ocidente, tendo sido recebido pelo presidente americano Richard Nixon e pela rainha Elizabeth II, da Inglaterra.

Com isso, Ceausescu tinha a licença para oprimir, tendo como pano de fundo um grotesco culto pessoal, que aprendeu com Mao Tsé-tung, na China.

Entre 3% e 10% da população eram informantes Para os romenos, a vida era uma tortura. Até a tentativa de fuga dessa realidade em grupos intelectuais de dissidentes era arriscada. A Securitate, a polícia secreta do regime, tinha seus agentes infiltrados em todos os setores da sociedade. Há relatos de que entre 700 mil e 2 milhões de pessoas eram informantes do regime — numa população de 22 milhões.

Mas foi também o fim brusco da era Ceausescu, num processo e numa execução tão brutais quanto o seu regime, que transformou o período num estigma ainda mais absurdo para os romenos.

Angelo Mitchievici, do Instituto de Investigação dos Crimes do Comunismo, de Bucareste, lembra que o processo contra Ceausescu foi relâmpago porque os seus ex-ajudantes queriam fechar o capítulo dessa época sem discussões — evitando assim que sua própria parcela de culpa nas arbitrariedades do regime viesse à tona com a execução do casal Ceausescu.

— Os ajudantes da ditadura nunca foram punidos.

Já Ujica disse que só 20 anos depois foi descobrir quem era realmente Ceausescu: não um monstro surgido do nada, mas um “ditador que era um produto da sua própria nação”. Para o cineasta, o regime de opressão foi possível durante 25 anos porque Ceausescu era cercado de oportunistas que o apoiavam para tirar proveito do regime. O Globo

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