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8 de outubro de 2010

Descaramento. Desonestidade.

PT retirará a defesa do aborto de seu programa. Pode-se confiar numa candidata que segue os ventos eleitorais?

Dilma é favorável à legalização do aborto. Descriminalização do aborto é apenas um eufemismo para tentar dourar a pílula indigesta para um País católico como o Brasil. No caso da candidata, ela declarou de forma inequívoca no dia 4 de outubro de 2007, já exercendo o cargo de ministra-chefe da Casa Civil e já cotada para a sucessão presidencial. Ela não manifestou essa opinião em momento privado ou circunstância de foro íntimo, mas em sabatina pública, como pode ser conferido no site UOL onde está registrado em vídeo a entrevista de Dilma.

Em três anos, da declaração categórica até hoje, o que pode ter mudado nas convicções de uma mulher adulta, avó e ciente de suas responsabilidades públicas senão as circunstâncias políticas envolvendo eleitores religiosos? Na segunda-feira, curtindo a ressaca da eleição, sem ser perguntada sobre o tema, declarou-se "em favor da vida", numa situação bisonha. Só faltava ser favorável à morte. Por Margrit Schmidt

E essa é a fragilidade da candidata do PT. Não necessariamente suas posições favoráveis ao aborto, mas a maneira dissimulada como os petistas enfrentam suas convicções e valores versus seus interesses eleitorais. Ao rebaixar sua plataforma histórica e transformá-la em subproduto da luta político-eleitoral, os petistas revelam aos eleitores a farsa em que se transformaram, desde a sua criação.

AMBIGUIDADE
A sociedade é composta dos mais variados grupos: sem-terras e produtores, bancários e banqueiros, metalúrgicos e montadoras, artistas, confeiteiros, e é natural que nos momentos de eleição estes tentem buscar vias de legitimação. Os grupos religiosos são igualmente uma parcela legítima que tem todo direito de saber qual a opinião dos candidatos sobre os temas de seu interesse.

Já é notória a ambiguidade dos discursos de Dilma em relação aos diversos grupos. Ela pode aparecer com o boné do MST e ser contra as invasões numa mesma semana; pode ter uma conversa animada com banqueiros e ser aplaudida num sindicato. E isso tudo - ao contrário do que possa parecer numa leitura rápida -, não representa um espírito democrático exercendo sua vocação. É o total inverso.

Para os religiosos, é importante saber o que os candidatos pensam sobre diferentes assuntos, entre eles o aborto. Eleitores ateus, embora talvez tenham outros temas mais sensíveis, também querem saber o que os legisladores e os governantes pensam sobre o tema. E há tópicos relevantes para os ateus que, na ótica dos religiosos, provavelmente não tenham a menor importância. É assim que funcionam as coisas no mundo democrático: grupos vão atrás de seus interesses.

Tentando exercer o dom autodeclarado de Lula de ser uma metamorfose ambulante e seguir enganando suas canhestras plateias no centro do picadeiro, Dilma não vai muito além de vestir uma máscara rasgada.

DESONESTIDADE
O PT, que nem sempre está atrás do cercadinho protegido das perguntas indiscretas da imprensa malvada, revela sua imensa safadeza, como informa matéria na Folha de S.Paulo durante a semana sobre as acusações dos adversários a respeito das posições da candidata sobre o aborto: "O primeiro contra-ataque partiu do secretário de Comunicação do PT, André Vargas. "O Brasil verdadeiramente cristão não votará em quem introduziu a pílula do dia seguinte, que na prática estimula milhões de abortos: Serra", disse em seu Twitter". A pílula do dia seguinte é um dos métodos contraceptivos criticado pela Igreja Católica e distribuída pelo Ministério de Saúde. Diferentemente do que Vargas sugere, sua adoção foi decidida antes de Serra, rival de Dilma no segundo turno, ser titular da pasta. O secretário de Comunicação do PT defende ainda o isolamento da ala do partido pró-legalização. "Agora é hora de envolver mais dirigentes na campanha. Foi um erro ser pautado internamente por algumas feministas. Eu e outros fomos contra"". Mais cínico, impossível.

As lutas de gênero são uma especialidade da esquerda. Na Constituinte de 1988, os petistas organizaram inúmeros movimentos para defender os direitos das mulheres, entre eles o direito a decidir sobre o seu próprio corpo, tentando legislar para transferir o assunto para a esfera privada dos direitos individuais e para esfera pública como assunto de saúde. O PT declarou que vai retirar a defesa do aborto de seu programa. Dá para confiar numa candidata que muda ao sabor dos ventos eleitorais? Jornal de Brasília

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