Correa nunca foi seqüestrado: fez-se de vítima
O Presidente do Equador, Rafael Correa, nunca esteve sob seqüestro enquanto esteve no hospital da Polícia Nacional, sob custódia do Quinto Regimento, já que ele podia "ir e vir" à vontade sem que ninguém o impedisse, asseguraram os especialistas em Quito.
De acordo com um relatório de James Vintmila, diretor do Centro sobre Direito e Sociedade (Cides), com sede na capital do Equador, Correa utilizou o protesto da polícia, contra a nova lei orgânica sobre o serviço público, para promover uma estratégia que o apresentasse como vítima de uma suposta tentativa de golpe.
"Todos os meios de comunicação foram seqüestrados e a população passou a ter uma única fonte de informação: a oficial, pois estamos sob a modalidade de uma cadeia indefinida, algo realmente insólito", afirmou Vintimilla. O Impacto CNA fornece então um relatório da CIDES sobre a crise no Equador.
Na manhã de 30 de setembro enfrentou-se em mais de sete províncias, uma paralisação de um grande número de membros da polícia nacional. Esta situação, por consequência, gerou insegurança total, pois muitas cidades como Quito e Guayaquil ficaram sem proteção policial. Infelizmente, nesta ausência institucional, houve uma série de abusos e assaltos a supermercados, transeuntes e bancos.
No meio da manhã, o Presidente Correa foi até o Regimento para conversar com os líderes da paralisação e, desafortunadamente sem sorte, foi agredido por bombas de gás lacrimogêneo. Esta realidade o obrigou a refugiar-se no hospital da polícia nacional, pois há uma semana, ele passou por uma cirurgia no joelho.
É aqui, que o protesto corporativo gerado pela rejeição de alguns artigos da lei orgânica do serviço público toma outra nuance: foi utilizada pelo governo para transformá-lo em uma tentativa de golpe, decretando inclusive o estado de exceção.
Ainda mais triste é o fato de que, antes da declaração de estado de exceção, foi dada uma ordem direta do governo para que todos os canais de televisão e estações de rádio se conectassem à televisão pública para que ela fosse, exclusivamente, o centro de informação.
Considero que, a partir do meio-dia, todos os meios de comunicação estavam seqüestrados e a população recebeu uma única fonte de informação: a oficial, pois estamos sob a modalidade de uma cadeia indefinida, algo realmente incomum.
Não acredito que o presidente tenha sido seqüestrado e nem que tenha existido tentativa de golpe, considero que ante a sequência de protestos que se avizinhava, descobriram o mecanismo perfeito para fortalecer a figura do mandatário e vender a figura da vitimização e agressão, pois tenho pleno conhecimento de que os funcionários públicos entravam e saiam, sem restrições, do hospital onde se encontrava Correa.
Grave também é observar o desfile de figuras políticas governamentais pela mídia, que se dedicam à defesa da ordem constitucional, porém não se escutam as supostas "vozes golpistas", que ficaram no plano de fundo, porque elas simplesmente não existem.
Não esqueçamos que o artigo 165 da Constituição estabelece a possibilidade de se dispor da censura prévia nas informações dos meios de comunicação social, com estrita relação aos motivos do estado de exceção e de segurança do Estado. Mas isso não quer dizer cadeias midiáticas eternas.
Lamento que a democracia seja unicamente a eleitoral e que a legitimidade da ação nunca seja considerada nem na OEA, nem na comunidade internacional, é claro, com algumas exceções.
Estou seguro que assim como os aeroportos voltaram ao normal, o senhor Correa regressará esta mesma noite ao Palácio de Carondelet (como aconteceu), como um herói e defensor da democracia.
É muito triste que ninguém repare este show, com total segurança ele justificará seus temores e demônios de golpismos e deverá apelar ao despotismo, deixando de lado o estado constitucional dos direitos e da justiça que aparentemente nos governa.ImpactoCNA – Tradução de Arthur (FDS)
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