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20 de outubro de 2010

Falso crime eleitoral

Cartas de líderes católicos a seus fiéis são quase tão antigas quanto a própria Igreja, como mostram, na Bíblia, as cartas do apóstolo São Paulo a povos da Antiguidade. Por isso, causa espanto a confusão criada por militantes do PT, pela Polícia Federal e pela Justiça Eleitoral que, no último fim de semana cercaram uma gráfica para impedir a distribuição de panfleto com mensagem de três bispos defendendo voto contra políticos que defendam o aborto (a mensagem não menciona a candidata do PT).

A acusação inicialmente feita foi a de que o panfleto poderia ser falso (quando a esta altura é notório que os três bispos têm promovido a distribuição daquele documento em portas de igrejas da Grande São Paulo). Além disso, a militância alegava que era necessário apurar se o panfleto caracterizava crime eleitoral, como propaganda negativa. Ocorre que a lei eleitoral não pode impedir mensagens de bispos a sua congregação de fiéis, pois se trata da relação privada entre membros de uma mesma entidade. Editorial Diário de São Paulo


Falta ao PT e à sua candidata à Presidência da República o entendimento de que provocaram a onda religiosa que os atinge na atual campanha eleitoral. Isso ocorreu por causa da posição do partido a favor da descriminalização do aborto. Essa posição consta de documentos oficiais do partido, juntamente com outras discutíveis, como implantar o que chamam de "controle social da mídia", um eufemismo de censura, monitoramento, mordaça. Veio daí a onda religiosa que une evangélicos e católicos na condenação das posições do PT e de sua candidata a respeito do aborto e outros temas que tanto preocupam os cristãos. A campanha tucana pode ser acusada de estar explorando a onda em vez de contribuir para contê-la. Mas não pode ser acusada de ter criado a onda.

A apreensão dos panfletos tem elementos de uma ação estabanada e confusa, em que indícios foram tomados erroneamente como prova de participação tucana. Como se viu depois da apreensão, a gráfica presta mais serviços ao PT que ao PSDB, assim como imprime material para católicos, evangélicos e budistas. Quem encomendou a impressão foi o assessor de um dos bispos, que já avisou que pagará o serviço. Em nota oficial, a Regional Sul 1 da CNBB reconhece o erro de ter colocado, na carta aos fiéis, o nome "de sigla partidária". Mas permanece a crítica às posições pró-legalização do aborto, entre outras. É assunto que envolve valores religiosos, é lícito que a Igreja se manifeste sobre ele.

Entende-se que os petistas queiram caracterizar a impressão dos panfletos como crime eleitoral. Em campanhas eleitorais é assim mesmo. Mas eles próprios sabem muito bem que esse, que apontam, é um falso crime eleitoral. Trata-se da livre expressão de um grupo, que eles querem cercear - em sintonia, aliás, com o que consta de alguns de seus documentos oficiais.

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