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25 de outubro de 2010

Luz para todos e dinheiro para eles

O programa do governo Lula ajudou a encher os bolsos da família de Valter Cardeal, diretor da Eletrobras e homem de confiança de Dilma Rousseff

O programa Luz para Todos é a versão petista do Luz no Campo, criado no governo FHC. Desde 2003, ele já levou energia elétrica a 2.5 milhões de famílias que dependiam de lamparinas ou geradores. Seria uma boa notícia, não fosse o fato de o Luz para Todos estar, desde o início, imerso em sombras ao menos quando o assunto é a administração de suas verbas. Na semana passada, VEJA descobriu mais um fio desencapado no programa sob responsabilidade da Eletrobras. Seu diretor de engenharia é o já bastante enrolado Valter Cardeal, homem de confiança da ex-ministra e candidata à Presidência da República Dilma Rousseff. Como um dos principais responsáveis pelo Luz para Todos, ele tem poder para liberar pagamentos e chancelar os contratos feitos com as empresas que executam o programa. Pois Cardeal achou que, se a luz era para todos, poderia também ajudar a energizar os negócios de sua família no Rio Grande do Sul. Por Fernando Mello e Igor Paulin


Por intermédio da AES Sul - concessionária de energia que atua no estado -, a Eletrobras contratou para trabalhar no programa uma firma chamada... Cardeal Engenharia! E isso mesmo que você leu. Fundada por Valler Cardeal, em 1999 ela passou a ser tocada por dois de seus irmãos. Edgar e Fernando José. O contrato da Cardeal Engenharia com o Luz para Todos, que terminou no ano passado, não envolvia a execução de obras físicas, apenas o "desenvolvimento de projetos". Por ele, os Cardeal embolsaram 50 000 reais por mês, ao longo de 54 meses, totalizando uma bolada de 2,7 milhões de reais.

Valter Cardeal foi nomeado diretor da Companhia Estadual de Energia Elétrica do governo gaúcho em 1999, ano em que se afastou da Cardeal Engenharia. O governador do estado era, então, o petista Olívio Dutra, e a secretária de Energia, Dilma Rousseff. Cardeal e Dilma se conheciam por terem atuado juntos no PDT. A partir daí, não mais se largaram. Passaram a trabalhar sempre próximos um do outro e assinaram suas fichas de filiação ao PT no mesmo dia: 18 de março de 2001. Enquanto isso, a empresa dos Cardeal patinava. Nem sequer conseguia manter uma sede própria. Tanto que seu endereço comercial ficou registrado por cinco anos como sendo o mesmo da casa de Edgar Cardeal. Em 2003, com o início do governo Lula, a vida do Cardeal mudou - e para muito melhor. Valter Cardeal havia conquistado a afeição de Dilma e, quando ela assumiu a Pasta de Minas e Energia, foi um dos primeiros técnicos que a nova ministra convidou para ingressar no governo. Ganhou a vaga na Eletrobras, a maior holding de energia da América Latina e, no ano seguinte, a Cardeal Engenharia já era uma das prestadoras de serviços de um dos principais programas da empresa. Procurada por VEJA, a AES Sul garantiu que o contrato firmado com a Cardeal Engenharia foi legal e se deu por meio de concorrência privada. Esse tipo de concorrência não segue os parâmetros da Lei de Licitações, que regula o setor público. Embora o processo esteja sujeito a auditorias internas, é a própria companhia que o controla.

Não é a primeira vez que a relação de Valter Cardeal com o Luz para Todos resulta em curto-circuito. Em 2008, ele foi denunciado pelo Ministério Público por participar de fraudes milionárias envolvendo o programa, cometidas no estado do Piauí. Segundo a acusação, Cardeal, entre outras improbidades, autorizava aditivos irregulares que multiplicavam o valor dos repasses da Eletrobras para obras de instalação de luz. A denúncia cita um caso que dá a medida do descalabro: um dos contratos recebeu um aditivo de 235 000 reais para incluir um único consumidor na rede elétrica. Uma das empresas que se beneficiavam da fraude era a Gautama, do empresário Zuleido Veras, que chegou a ser preso pela Polícia Federal e a passar treze dias na cadeia, apesar das amizades célebres (era chapa da família Sarney e até emprestou sua lancha de 3 milhões de reais para um passeio do governador baiano Jaques Wagner e da então ministra Dilma Rousseff). Depois do escândalo do Piauí, a Procuradoria-Geral da República recomendou que Valter Cardeal fosse afastado do serviço público. A Eletrobras, porém, se recusou a puni-lo, e ainda contratou - com dinheiro do contribuinte e sem licitação - o advogado carioca Nélio Machado para defendê-lo, ao preço de 1 milhão de reais. Mais recentemente, descobriu-se que, depois que o governo decidiu investir na geração de energia eólica no Rio Grande do Sul, a família Cardeal passou a tentar emplacar inúmeros projetos nessa área. Edgar Cardeal oferecia "serviços" para facilitar a entrada de empresários nesse mercado, mediante o pagamento de uma "taxa de sucesso".

A história tem um roteiro igual ao de Erenice Guerra. Funcionário da confiança de Dilma Rousseff, por ela nomeado. Valter Cardeal vale-se do poder do cargo para beneficiar parentes diretos - que, além de ganhar cargos ou contratos públicos, oferecem a empresas privadas intermediações em negócios com o governo mediante pagamento de propina. O presidente Lula vive elogiando a "firmeza" da candidata petista. Pelo jeito, a ex-ministra tem mesmo é um coração mole. Revista Veja

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