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25 de outubro de 2010

O país das mãos leves

Estudo inglês mostra que o Brasil só perde para a India em prejuízos causados por pequenos furtos em lojas. A explicação vai além da clássica lei de Gérson

Se for verdade que a lassidão moral da elite política apenas reflete as condutas da sociedade em geral, os brasileiros precisam se submeter a um choque de ética. Um estudo divulgado na semana passada pelo Centro de Pesquisa em Varejo da Inglaterra. concluiu que o Brasil é o segundo país que mais perde dinheiro com pequenos furtos em lojas, ao lado do Marrocos e superado apenas pela Índia. Entre julho de 2009 e junho de 2010, as principais redes varejistas brasileiras registraram 3.9 bilhões de reais em perdas com esse tipo de crime, o equivalente a 1,64% do total do faturamento. Por Julia Carvalho


Em um negócio em que a margem de ganho é apertada, esse número significa a diferença entre o lucro e o prejuízo. No caso dos supermercados e farmácias, por exemplo, para cada item roubado, outros cinco iguais precisam ser vendidos para compensar o dano.

A pesquisa comparou os dados sobre furtos em lojas de 42 países. Taiwan registrou o índice de perda mais baixo. 0,879. O desempenho do Brasil é vergonhoso: nossos consumidores surrupiam mais do que os de outras nações em desenvolvimento, como México, Tailândia e Argentina. A compulsão por roubar sem necessidade não explica esse comportamento. "Não há nenhum indício de que existam mais cleptomaníacos no Brasil do que no resto do mundo. Isso aponta para uma razão cultural para o fenômeno", diz a psicóloga Marisa de Abreu. de São Paulo. O senso comum diria que a lei de Gérson. a de querer levar vantagem em tudo, é intrínseca ao brasileiro. A busca pelo beneficio próprio, no entanto, não é exclusividade do povo que vive entre o Chui e o Oiapoque.

O problema é a noção, enraizada na mentalidade nacional. de que as instituiç0es devem servir aos seus propósitos pessoais. não para organizar a vida em sociedade. no caso dos órgãos públicos.ou para prestar um serviço pago a população, no caso da iniciativa privada. "Muitos clientes se sentem no direito de levar alguns produtos sem pagar porque consideram estar fazendo um favor de comprar naquela loja", diz Gustavo Messiano Velehov, diretor-geral da filial brasileira da Checki point Systems, empresa americana de equipamentos de segurança que patrocina o estudo global sobre furtos. Para não ficarem com a consciência pesada, partem do princípio de que, perto do tamanho do estoque da loja, um único item não vai fazer falta.

Os consumidores contam. muitas vezes, com a conivência dos empregados das lojas para quem não compensa arrumar confusão com cliente para defender o patrimônio do patrão. "Empresas americanas como a Limited Brands, dona da marca de lingerie Victoria"s Secret, investem no treinamento dos funcionários para resolver esse problema, diz Nuno Fouto, diretor de pesquisa do Programa de Administração de Varejo (Provar). da Fundação instituto de Administração. O treinamento tem como efeito também diminuir os crimes internos. porque os empregados passam a se sentir responsáveis pela empresa. Esse aspecto é especialmente preocupante no Brasil, onde quatro em cada der furtos dentro das lojas são feitos pelos próprios funcionários.

Nos Estados Unidos, o shoplifting, como é chamada a prática dos pequenos furtos. é combatido com modernos sistemas de vigilância e alarmes. A parafernália já revelou alguns ilustres bandidinhos, entre eles a atriz Winona Ryder e a cantora Britney Spears. Em agosto deste ano, Caroline, filha do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, foi presa por furtar 100 dólares em maquiagens e cosméticos. Seu pai é autor da política de tolerância zero com a criminalidade na cidade americana. Faltou. como falta no Brasil, ensinar tolerância zero em casa. Revista Veja

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