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6 de outubro de 2010

O destino de Marina

O pior de Dilma é a falta de transparência do seu passado. Os fatos que a envolvem são cercados de versões opacas

A surpreendente votação obtida por Marina Silva em 3 de outubro foi uma demonstração cristalina de que os eleitores não podem ser subjugados por estratégias plebiscitárias, decididas em palácios e gabinetes. Os eleitores brasileiros alertaram os partidos políticos que são donos de seus votos. Sim, há ainda uma parcela considerável que troca o voto por subsistência, mas já não é mais a maioria.

Os votos em Marina representam diversos setores e diferentes tipos da sociedade: há os fiéis e religiosos, há os insatisfeitos com os caminhos do petismo, há os descrentes na política e ainda os muitos partidários do pensamento utópico e idealista. É essa diversidade que vai definir a eleição no segundo turno. Como se pode prever, o universo dos eleitores de Marina vai se dividir. Mas o que será mais difícil de saber é quais serão os argumentos capazes de tocar o coração e as mentes desse grupo tão heterogêneo. Por Margrit Schmidt


SERRA EM VANTAGEM
José Serra tem maior potencial, seja porque o PV há algum tempo vem se coligando com o PSDB em vários governos e prefeituras, seja porque o voto em Marina representou, no mínimo, um desgosto com Lula, Dilma, o PT e a companhia do atraso que vem junto no pacote. Mas Serra terá que arejar seu discurso.

O bom momento econômico percebido pela maioria dos eleitores impõe a recuperação do percurso dos avanços dos últimos 16 anos, o que implica enfatizar a conquista dos alicerces tendo a estabilização monetária como pilar de sustentação de todo o edifício.

Em português claro: mostrar o legado de Fernando Henrique Cardoso. Difícil? Depende da compreensão de Serra do momento vivido pelo Brasil. Requer generosidade e visão estratégica do futuro e a máxima certeza: ninguém é candidato de si mesmo, muito menos presidente solitário.

Para Dilma, as dificuldades não serão pequenas, tampouco. Sua vantagem numérica diante dos votos de Serra não é garantia automática de vitória. Marina faz um contraste muito grande com Dilma.

O que tem Marina de naturalidade, exposição franca e verdade, tem Dilma as características opostas. O artificialismo da imagem de Dilma é só o menor dos problemas. Falta transparência ao seu passado. E os fatos conhecidos são cercados de sombras e versões opacas. O primeiro turno foi marcado pela ação do marketing político que escondeu e envolveu em véus de mistério passado da candidata.

CABEÇA ANTIGA
A culpa não é do marketing. A candidata veio de um mundo de experiências políticas arcaicas, que rejeitava a própria política como instância de exercício da democracia. A esquerda da qual ela é ou já foi filiada, suporta valores cujo cerne está em desacordo com a democracia e os costumes e tradições da maioria dos brasileiros: descriminalização do aborto (há declarações públicas de Dilma disponíveis na internet - entrevistas à Folha de S.Paulo e à revista Marie Claire), apoio às invasões de terra e cerceamento das liberdades de expressão - para sublinhar as mais gritantes do PNDH 3, depois convertido em programa eleitoral do PT, retirado às pressas do TSE.

De todo modo, uma espécie de "carta na manga" socialista, que volta e meia os seus correligionários entam impor para a sociedade brasileira, contrabandeando parágrafos no meio de uma defasada e anacrônica narrativa histórica.

Se para Serra e Dilma a tarefa de conquistar a maioria dos votos de Marina provoca desafios para os próximos 20 e poucos dias, o que está posto para Marina também não é nada trivial. Marina está propondo ao PV plenárias para definir a posição do partido com a participação de movimentos e per-sonalidades que não pertencem aos quadros do partido, mas que marcaram presença na campanha: o Movimento Marina Silva, que tem mais de 40 mil pessoas inscritas no seu site, lideranças sindicais, religiosas de diversos credos, além de artistas e intelectuais.

Uma das possibilidades, informa o jornalista acreano Altino Machado, é que os verdes, partidários ou não, redijam um resumo da plataforma de campanha de Marina e entreguem a Serra e a Dilma. Aos dois candidatos caberia dialogar diretamente com os eleitores de Marina e convencê-los da sinceridade ao incorpora as novas diretrizes verdes às suas respectivas campanhas.

Nenhum candidato é dono dos seus votos. Seja qual for a escolha de Marina, a agenda proposta por sua campanha, muito além da sustentabilidade e da ecologia, terá que ser incorporada. : JORNAL DE BRASILIA


Marina nega reunião com PT
A senadora Marina Silva (PV-AC) divulgou nota para desmentir declaração do presidente do PT, José Eduardo Dutra, de que aceitou se reunir para discutir o apoio a Dilma Rousseff no segundo turno. Segundo Marina, o presidente do PT ligou para dizer que gostaria de iniciar as conversas sobre o apoio. Ela afirma ter agradecido o telefonema e que irá discutir os próximos dias com o partido e com "parcelas da sociedade civil" sobre o apoio. A senadora disse a Dilma Rousseff (PT) e a José Serra (PSDB) que sua candidatura foi maior que o próprio PV. "Você sabe que sou uma mulher de processo", afirmou a ex-candidata.

De acordo com a nota, o PV fará uma convenção nacional para decidir a questão. Ontem, Dutra afirmou que Marina Silva já aceitou se reunir com a campanha de Dilma Rousseff para discutir o apoio. "Ela aceitou sentar para conversar. Agora, vamos esperar o timing dela", afirmou o petista em Brasília. Segundo Marina, a declaração dele foi um equívoco.

Dutra disse que telefonou para Marina e a parabenizou pela votação que teve na disputa presidencial. Ela conseguiu 19,6 milhões de votos. Esse patrimônio eleitoral é cobiçado por Dilma e José Serra (PSDB). Valor Econômico

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