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14 de outubro de 2010

Programa de combate

Embora façam sentido as mudanças na atitude de Dilma e na propaganda da TV, há algo estranho no ar

Por maior que seja o contraste entre a Dilma Rousseff de domingo passado na Band e a dos debates do primeiro turno, bem como entre o tom olímpico dos programas de TV na etapa inicial e o generoso espaço agora dedicado à satanização do governo Fernando Henrique, existe lógica na comunicação da campanha petista.

O dia 3 de outubro mostrou que Dilma, sem prejuízo dos quase 47 milhões de votos recebidos, não tinha força suficiente para resistir à combinação Erenice-aborto. A força estava com Lula. A primeira providência, portanto, foi retirar o presidente de cena e dar protagonismo à candidata -enquanto, nos bastidores, ele manda mais do que nunca, sendo o verdadeiro e único condutor da "intervenção branca" que alguns chegaram a atribuir a personagens como Ciro Gomes e José Dirceu. Por Renata Lo Prete


Chamado a explicar o sentido de urgência de Dilma, que avançou sobre José Serra desde a primeira intervenção no debate e mais de uma vez começou a falar por cima das palavras do mediador, um integrante do comando da campanha argumenta que ali, como nunca antes, ela mostrou-se capaz de dar o "combate autônomo", longe das asas protetoras de Lula.

A propaganda negativa é fruto da realidade. Mudaram os números e, com eles, o tamanho do risco de derrota. Bate quem precisa. E quem bate, ao contrário do que diz um bordão surrado do marketing político, não necessariamente perde.

No entanto, embora façam sentido mudanças tanto no comportamento de Dilma quanto no teor do programa de TV, há algo estranho no ar. Talvez seja menos o diagnóstico do que a dosagem do remédio.

Na Band, Dilma foi tão agressiva -ou "assertiva", como prefere definir- que não lhe sobrou tempo para ser propositiva. Nos próximos debates, seguirá na mesma toada ou voltará para dentro da garrafa? Trocar de personagem é uma opção de risco na encenação eleitoral.

Na propaganda, se antes havia Lula demais, agora não há quase Lula nenhum. E as pauladas no "governo FHC-Serra", com gráficos apocalípticos projetados sobre o indefectível fundo preto, ocupam o miolo do bloco de dez minutos, quando não são desferidas em locução da própria candidata.

Tudo junto e misturado, restam duas impressões.

Primeiro, a de um certo improviso, como se os petistas jamais tivessem trabalhado a sério com a hipótese de não liquidar a fatura pela via rápida.

Segundo, a de que essa não é a campanha típica de quem está na frente -e Dilma, dizem Datafolha, Ibope e Vox Populi, está.

Ocorre que esta eleição se revelou cheia de percalços para os institutos. O Vox, que pesquisa para o PT, errou feio o prognóstico do primeiro turno. Mais do que interessada em vender ilusões aos jornalistas, talvez a campanha de Dilma esteja insegura dos próprios números.

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RENATA LO PRETE é editora do Painel da Folha de São Paulo

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