Grupos do PT, desde quando eram oposição, sempre demonstraram traquejo na busca de informações sigilosas sobre adversários, para utilizá-las como munição na luta pelo poder.
Provavelmente devido à cultura forjada em duros embates travados no mundo sindical - origem dessas frações -, turbinada pela visão dos "fins que justificam os meios", própria de certa militância esquerdista, essas falanges se especializaram em arapongagens e montagem de dossiês a serem vazados na imprensa, no Congresso, onde interessar. Opinião O Globo
Conquistado o poder nas eleições de 2002, a primeira ação de maior repercussão desses "aloprados", termo cunhado por Lula, foi a desastrada operação de compra de um dossiê fajuto, no final da campanha de 2006, para alvejar o tucano José Serra, então candidato ao governo de São Paulo. Pilhado pela PF nesta manobra estava o responsável pela campanha do adversário de Serra, senador petista Aloizio Mercadante, que não se cansa de jurar inocência e apresentar como prova de sinceridade o fato de não ter sido acusado na Justiça.
No segundo mandato de Lula, aloprados petistas patrocinaram outras histórias de atuação subterrânea, ilegal.
Em sua última edição, "Veja" traz importante entrevista de um ex-diretor da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, Gerardo Xavier Santiago, com passagem pela função de assessor direto de Sérgio Rosa, petista que presidiu o maior fundo previdenciário do país. Dizendo-se arrependido e decepcionado com o PT, Gerardo denuncia a Previ de Sérgio Rosa como ativa usina de produção de dossiês difamatórios.
Do esquema também participa, diz ele, Ricardo Berzoini, ex-presidente do PT, ex-ministro, também de longa carreira sindical no setor bancário, com origem no BB. Ele afirma, ainda, ter participado da produção de alguns desses petardos, sob encomenda do chefe Rosa. O cenário traçado pelo ex-diretor da Previ ajuda a se dimensionar o enorme perigo que garantias constitucionais e o próprio regime democrático correm, depois de todo esse tempo em que esquemas sindicais petistas atuam em áreas vitais do Estado, como a Receita Federal e no braço financeiro público (Banco do Brasil e Caixa Econômica, por exemplo), com acesso a arquivos de dados sigilosos da população protegidos por lei.
Eduardo Jorge, vice-presidente do PSDB, é a mais recente vítima deste aparato de vigilância incrustado no Estado por meio do aparelhamento ideológico da máquina pública patrocinado na Era Lula. O sigilo fiscal de Eduardo Jorge foi ilegalmente quebrado, e, segundo ele, o de uma conta no Banco do Brasil também. Não por acaso.
O vazamento de informações do imposto de renda do tucano num bunker da campanha de Dilma Rousseff e uma carta anônima contra o ministro Guido Mantega redigida num subaparelho sindical montado no BB são elementos sólidos que apontam para a existência de um esquema paralelo de espionagem montado no governo e em estatais. Uma de suas missões primordiais: invadir a privacidade de qualquer um, como se estivéssemos num estado soviético.
(Ou estamos, neste aspecto?) Uma daninha decorrência de todos esses casos que se sucedem no governo Lula é a cristalização de uma letargia moral no país: os casos escandalizam cada vez menos, os mecanismos públicos de correção de desmandos se tornam lerdos, enquanto paira a distorcida e deplorável percepção de que um governo com alta popularidade tudo pode.
Sucessão de casos sem consequências cria estado de letargia moral
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