A oferta de asilo feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani é "um gesto tardio, incoerente e insuficiente para branquear a política externa de direitos humanos do governo atual". A opinião é do pesquisador do Grupo de Acompanhamento da Conjuntura Internacional da USP (Gacint), Samuel Feldberg. Para ele, "a oferta resolve o drama pessoal de uma cidadã, mas não muda o problema estrutural dos direitos humanos no Irã".
No ano passado, Lula ignorou a repressão do regime iraniano sobre manifestantes da oposição, que pediam a anulação das eleições presidenciais de junho. Apesar das denúncias de fraude, o presidente Mahmoud Ahmadinejad assegurou sua reeleição e apertou o cerco à oposição. Centenas de iranianos foram detidos e agredidos por agentes do regime, mas para Lula os incidentes não passaram de "uma coisa entre flamenguistas e vascaínos".
Outro especialista em relações internacionais, Clodoaldo Bueno, da Unesp, diz que "o gesto de Lula é insuficiente para reverter o impacto negativo" que a política externa de direitos humanos do atual governo provocou até agora. "É tarde demais para tentar reverter algo tão forte no fim do mandato", diz.
Os dois pesquisadores citaram Cuba como exemplo de incoerência de Lula, que, em março, condenou a greve de fome feita pelo prisioneiro político cubano Orlando Zapata Tamayo, comparando-o a presos comuns. "Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade", declarou Lula na época.
Para Feldberg, mesmo que Teerã recuse a oferta de asilo, "Lula, ainda assim, lucrará, dizendo que não ficou de braços cruzados diante do drama pessoal de Sakineh".
E o Irã recusou. Leia: Oferta de Lula é 'interferência' em assuntos internos, diz agência do Irã
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