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18 de setembro de 2010

Déspota nordestino

Quando em 1° de maio de 1500, Pero Vaz de Caminha escreveu para D. Manoel, rei de Portugal, dando notícias do descobrimento da terra Brasil, falando da imensidão de nossas florestas, de nossa riqueza hídrica, da nudez de nossos inocentes índios e, principalmente da falta de uma fé religiosa, sempre com uma subserviência descomunal ao Rei. Foi bastante enfático em sua carta em dois momentos, referindo-se ao Brasil: "Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar" - salvar de que? Importava naquela instante, impor a fé cristã a tantos e quantos aqui habitavam livres dos ditames civilizatórios de então. No último parágrafo Caminha suplica: "mande vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro -- o que d'Ela receberei em muita mercê". Instalava-se naquele momento, a praga do nepotismo que, atravessando séculos, ainda hoje se impõe de modo institucional e sem chances de ser banido do cotidiano brasileiro. (*) Por Rui Azevedo


Passados quatro séculos e meio, um médico pernambucano, Josué Apolônio de Castro, desbravou o semi-árido nordestino, denunciando ao mundo, a miséria nele existente, através do livro Geografia da Fome. Isso pelos idos dos anos 1946. Em 2008, uma equipe do Jornal do Comércio de Recife percorreu os mesmos caminhos de Josué de Castro nos nove estados nordestinos e para surpresa dos repórteres, a miséria continuava, apesar dos esforços governamentais.

Outro pernambucano,em 1953, um rei de nome Luiz Gonzaga - Lula o rei do baião, juntamente com Zé Dantas, produziram a primeira música brasileira, considerada de protesto - Vozes da Seca, onde mostra através de sua letra, que esmolas não contribui com o crescimento da cidadania pois, "seu doutor uma esmola a um homem que é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão"

No século 21, outro cidadão pernambucano, Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente Lula, que nunca foi chegado às letras, nascido no semi-árido, palco da pesquisa do Dr. Josué de Castro, achou que com o bolsa família, poderia eliminar a miséria do nordeste, como se o cidadão precisasse apenas de comida para construir sua dignidade. Apesar de seus dois outros conterrâneos tentarem, com sabedoria, mostrar ao mundo, o porquê da miséria que nos envergonha, Lula que condena as "zelites" desse país, responsabilizando-as pelo que de ruim existe, parece que ele e seu PT estão comprometidos com outras causas, quiçá aquelas preconizadas pelo Foro da São Paulo, fundado por ele, o companheiro Fidel Castro e outros.

É bem verdade que com fome não existe cidadania, mas é também verdade que os conceitos de dignidade e cidadania são interdependentes quando se fala em educação e isso, infelizmente, nosso presidente parece não estar muito preocupado, haja vista, os números divulgados pelo PNUD com relação à educação brasileira, mormente aqueles referente à região nordeste. Apesar de seus dois outros conterrâneos tentarem, com sabedoria, mostrar ao mundo, o porquê da miséria que nos envergonha, Lula parece olvidar os gritos dos excluídos, aliando-se à elite que lhe interessa, assim como fez outro pernambucano famoso que também fez história cujo nome era Virgulino Ferreira da Silva - o Lampião. Diário do Povo do Piauí

(*) Rui Azevedo é professor.

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